sábado, 31 de janeiro de 2015
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
Lição de astronauta
Sibélia Zanon
Em 1972, a tripulação da missão Apollo 17, a caminho da Lua, tirou uma
foto da Terra. A imagem, amplamente divulgada, foi a primeira fotografia nítida
do planeta iluminado. Astronautas costumam dizer que ver a Terra, pelo lado de
fora, é algo de grande impacto. Com suas cores e seu constante movimento, a
Terra é um convite à introspecção quando vista do espaço. Dificilmente alguém
que vive essa experiência volta para casa da mesma maneira, pois o cenário, de
uma beleza arrebatadora, intensifica a capacidade de apreciar.
Apreciar... A Terra, organismo vivo e frágil, reúne as condições exatas
para abrigar a vida humana. Maior proximidade ou distância do Sol fariam o seu
clima escaldante ou congelante. O seu campo magnético trabalha como um escudo
protetor contra as irradiações agressivas do espaço e do Sol. Em proporção
exata, a atmosfera da Terra contém os gases essenciais à vida e equilibra a
temperatura, criando uma variação climática pequena entre o dia e a noite. A
água e o solo aqui existentes têm as características necessárias para
possibilitar a produção de alimentos. Como não apreciar uma obra tão perfeita,
majestosa e delicada, que acolhe a vida como um grande útero?
A natureza inteira sustenta-se na exatidão. As leis da física, da
química, da biologia são leis da natureza que demonstram sua coerência nos
aspectos mais cotidianos. É como se essas leis regulassem o coração que bombeia
vida para dentro desse imenso organismo que nos protege.
“Se plantarmos milho, só podemos colher milho, jamais outra coisa, pois
a perfeição das leis da natureza não o permite. Quando se fala em lei da
gravidade, por exemplo, todos sabem seu significado, mesmo que não conheçam seu
enunciado na forma como é apresentada por quem conhece Física. Todos têm
consciência de que se soltarmos qualquer objeto no ar, ele cairá ao solo”, escreve
Fernando José Marques no livro Reflexões sobre Temas Bíblicos. As leis
da natureza não admitem exceções.
E se trouxermos essas leis para as nossas vidas? “Tudo o que nos permite viver, o ar, a água, nossos alimentos, os aparelhos e máquinas que nos dão conforto, enfim tudo é obtido com base em leis da natureza que o ser humano vem ‘descobrindo’ ao longo dos milênios”, acrescenta Fernando José Marques. Será
que a coerência que testemunhamos ao redor não estaria ainda mais perto,
perpassando todo o nosso caminhar e os frutos que saboreamos? Como imaginar a
vida humana caminhando ao acaso, se tudo o que nos cerca é testemunho de máxima
exatidão e lógica?
Talvez não seja necessário ir até o espaço para confirmar a perfeição arrebatadora,
mas abrir uma brecha para observar o que nos cerca. Na medida em que
constatamos a coerência das leis naturais, que obrigam à regularidade dos fenômenos,
além de apreciar, passamos a confiar. Confiar na condução coerente que permeia
as engrenagens da vida.
Quando isso se dá, em vez de adotarmos uma postura defensiva em relação
ao que nos acontece, buscamos entender a conjuntura do presente e vivenciar a
situação, podendo avançar desse estágio para um próximo. Confiar numa força
maior, que nos protege do acaso, é parte do processo incentivador das coisas
boas e poderosas, fonte de paz e de fortalecimento, um convite para vivenciarmos
a grandiosidade do agora, seja no espaço ou aqui mesmo, neste chão que temos
como lar.
Confiança
Sibélia Zanon
Desde pequenos aprendemos
lições com a natureza. Experiências simples nos mostram uma condução das coisas
grandes, que foge ao alcance das mãos. Um sistema amplo e integrado, de
engrenagens perfeitas, que responde de acordo com a nossa ação. Se regarmos a
semente, ela vai nascer. Se o grão era de milho, algodão não vai crescer. Seria
possível transferir o que visualizamos na natureza para a sementeira das nossas
vidas e confiar na lógica que existe nisso tudo?
“Quem semeia vento, diz a
razão,
Colhe sempre tempestade.”
Tom Jobim e Vinicius de Moraes
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Uma pausa para trocar os sapatos
Sibélia Zanon
“Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem
sol e não se tem chuva.
Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel
e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão
não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos
dois lugares!”
Cecília Meireles
Listas que morrem com o ano velho, listas que nascem no ano novo. Em
todo início de ano eu gostava de fazer a lista das coisas que gostaria de realizar
no ano que começava. Nunca comi lentilhas ou pulei ondas, mas sempre gostei das
listas. Elas me ajudavam a organizar as expectativas, os sentimentos, os
propósitos.
Eram também
uma forma de
fazer um balanço do ano,
pois na medida
em
que eu rascunhava
escolhas para o futuro, analisava como estava o caminhar no
presente e no passado.
As listas ensinam sobre as escolhas. É preciso escolher coisas para
colocar na lista, é preciso abdicar de outras. É preciso vivenciar a lista ao
longo do ano para entender sobre expectativa versus realidade.
Somos, aparentemente, bem intencionados a cada começo e a cada fim. Mas
o que acontece no meio? Além da nobreza ou não dos objetivos listados, a forma
de chegar a eles tem sido boa? Temos feito paradas estratégicas, ao longo do
ano, da semana, do dia, para avaliar os caminhos percorridos?
Refletir sobre as escolhas feitas ao longo de um determinado período é
uma forma de repensar o caminhar. E avaliar o caminhar permite que tomemos
novas decisões, que façamos escolhas mais conscientes para os próximos passos:
o caminho é pedregoso e precisamos trocar os sapatos? É possível seguir outra
direção e chegar a um novo lugar?
Quando não há paradas pelo trajeto, a fim de repensar os passos,
corremos o risco de seguir em frente sem olhar para o chão e tropeçamos, assim,
numa pedra qualquer. Ou, ainda, arriscamos seguir em frente sem olhar o céu e,
distraidamente, perdemos a referência dos pontos cardeais.
Passei
os últimos anos sem fazer listas. Ainda não sei bem por quê. Talvez algumas
ilusões tenham falecido. Talvez as coisas sejam mais complexas e não adianta
fazer uma lista tão organizada quando a vida é tão mutante. De qualquer
maneira, com ou sem listas, é preciso entender que não se pode calçar a luva e
colocar o anel ao mesmo tempo. É preciso fazer escolhas, refletir sobre elas e
ter, assim, a chance de se reorientar e escolher de novo. Com menos ilusões,
com mais confiança.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Assinar:
Postagens (Atom)