Sibélia Zanon
Como quem caminha por um
túnel sombrio, deparamos vez por outra com conceitos obscuros e conflitantes e,
por estranho que pareça, somos aconselhados a não questioná-los.
O dia das mães, o dia
dos pais, entre outros, invadem o imaginário coletivo com o marketing das
famílias indiscutivelmente amorosas. Muitos se sentem culpados por não
usufruírem da mesma cordialidade que a propaganda propõe ou por questionarem as
medidas do amor.
Existe amor compulsório?
Admiração compulsória? Ou esse
tipo de sentimento é norteado, no interior de
cada um, por águas mais profundas?
“Como pode uma criança respeitar o pai que se
degrada no vício da bebida ou uma mãe que torna todas as horas amargas ao pai e
a todos no lar, em virtude dos seus caprichos, pelo seu temperamento
desenfreado, por falta de autocontrole e por tantos outros modos que
impossibilitam inteiramente o surgir de uma atmosfera serena! Pode uma criança
honrar os pais quando os ouve insultar-se mutuamente de forma pesada, quando
enganam um ao outro ou quando chegam até a agredir-se?”, questiona
Abdruschin em Os Dez Mandamentos e o Pai Nosso.
Sofremos, muitas vezes,
em prisões construídas pela pobreza das interpretações, pelos conceitos
formatados, que não admitem questionamentos e dúvidas.
Em sua exposição sobre o
mandamento Honrarás pai e mãe!, Abdruschin ainda escreve: “O
mandamento impõe deveres incondicionais aos pais para que conservem sempre
completa consciência de sua elevada missão, e com isso também mantenham sempre
diante dos olhos a responsabilidade que nela se encontra”. O mandamento não
seria, então, dirigido exclusivamente aos filhos, mas sobretudo aos pais.
A admiração, o respeito
e o amor não são objetos, que podem ser vendidos pelo marketing ou
inseridos, por meio de conceitos obscuros, no interior de pais e filhos. São,
na realidade, sentimentos genuínos, com caráter transformador, que não se
deixam domesticar tão facilmente.