quarta-feira, 20 de maio de 2015

Fantasia

"— E o povo aceita realmente tais fantasias, como expressão da verdade? indagou este, ceticamente. Em meio à multidão devem existir pessoas que refletem e que não repetem, sem mais nem menos, aquilo que outros lhes querem impingir!
— Mas é conveniente assim; o povo aceita simplesmente e de bom grado o que lhe é ditado pelos sacerdotes.
Muito conclusivo fora isto, dito por Maru, que ainda acrescentou com um sorriso:
— Onde chegaríamos, se todos fossem tão minuciosos como tu, Li-Erl?
— Mas isto é horrível, exclamou o jovem. Aproveitai-vos da infantil credulidade do povo humilde, para impingir-lhe toda classe de inverdades! E também tu, Maru, endossaste tais ações?
O mestre olhava-o sem compreender.
— O que há nisto de horrível? Cada um recebe aquilo que lhe é de proveito. Podes acreditar, Li-Erl, o povo é feliz em sua fantasia, que a ninguém prejudica.

— Certamente que causa prejuízo, interrompeu Li-Erl, impetuosamente."



"Somente as coisas impossíveis exigem crença cega sem reservas, pois cada possibilidade estimula imediatamente o pensar individual. Onde existe a Verdade, que sempre mostra a naturalidade e as consequências lógicas, aí se inicia o pensar e, automaticamente, também a reflexão intuitiva. Cessa somente quando já não existe mais nada natural, onde, portanto, já não se encontra a Verdade. E apenas através da reflexão intuitiva pode uma coisa tornar-se convicção, a qual, unicamente, traz valor ao espírito humano!"



segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Fogo e as Salamandras



Povos antigos contavam e ouviam histórias ao redor das fogueiras. 
A educadora e artista Paloma Portela nos convida a escutar uma história como se fossemos uma tribo ancestral, ao redor de uma fogueira imaginária.  O tema da história é o fogo: O que é? De onde vem? Como nasceu? Quem ensinou as pessoas a usarem o fogo? 
Um era uma vez recheado de memórias, que só se pode recordar com o coração.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Fertilizar o pensamento

Sibélia Zanon

“O essencial é que o homem possua a fundo qualquer coisa e que se lhe dedique inteiramente como nenhum dos que o rodeiam o poderia jamais fazer.”

Johann Wolfgang von Goethe



Diz a parábola que certo dia um homem foi à floresta em busca de um pássaro e acabou levando para casa um filhote de águia.
Lá, o filhote foi colocado junto às galinhas, patos e perus. Cresceu ciscando o mesmo milho e andando pelo mesmo chão que as outras aves. Um dia, um naturalista descobriu a águia em meio às galinhas e desafiou o homem, dizendo que aquela ave nunca deixaria de ser uma águia, mesmo tendo vivido entre as galinhas. O homem não concordou. Então, o naturalista incentivou a águia a voar. Mas como ela sempre via as galinhas no chão, acabava decidindo se juntar a elas. Um dia, então, ele levou a águia para longe, no alto de uma montanha, em meio a uma natureza exuberante. A águia abriu suas asas e levantou voo.
A parábola, de James Aggrey, foi escrita como um lembrete aos povos africanos, então sob dominação europeia. Aggrey, pedagogo nascido em 1875 na antiga Costa do Ouro britânica, hoje Gana, falava sobre a riqueza de uma cultura que não deveria ser calada, mesmo se submetida à opressão.
Provavelmente, cada pessoa já se sentiu, ao levantar-se da cama, com o potencial de alçar voo ou, ao contrário, conformada e moldada a uma rotina sem propósito. A galinha, gentilmente, prestou um serviço para a alegoria, pois a questão não é exatamente o tipo de vocação que se tem ou o tipo de atividade que se exerce, mas sim: com que propósito?

“Cada pessoa pode e deve aspirar por ideais, seja qual for a atividade que desenvolve aqui na Terra. Pode com isso enobrecer qualquer espécie de trabalho, dando-lhe finalidades amplas”, escreve Abdruschin em Na Luz da Verdade. Estamos vendo propósito no nosso presente? Nossa atuação vibra em concordância com o que sentimos?
Quando vivemos sem conseguir ver sentido na vida, deixamos de alimentar os pensamentos com o frescor das novas possibilidades. É como se tivéssemos deixado de expandir nossos galhos em busca da luz do Sol e ficássemos encolhidos na sombra. Ter um propósito, por outro lado, alia a realização ao senso de utilidade. Realizar-nos, deixando um legado ou estendendo os braços-galhos para expandir os benefícios de nossa atuação além de nós mesmos.
Para aquela águia, voar não foi fácil. Era algo novo, desconhecido. Para as pessoas, quebrar paradigmas, dirigir um potente olhar sobre si mesmas, descobrir qual o seu potencial, e em nome de quais objetivos o seu interior vibra, exige sair da zona de conforto. Muitas vezes, gera sofrimento, dor que não deixa de ser agente transformador em importantes momentos da vida.
“Meditas, por exemplo, a sério sobre determinada coisa, tal pensamento se tornará fortemente magnético dentro de ti pela força do silêncio e atrairá todos os afins, tornando-se, desse modo, fertilizado. Ele amadurece e transpõe os limites da rotina, penetra devido a isso em outras esferas também, recebendo aí a afluência de pensamentos mais elevados... a inspiração!”, escreve ainda Abdruschin. Com o olhar já mais apurado sobre um propósito específico, é possível cultivar um pensamento, concentrando energias e, por fim, dando asas às vontades.
O escritor Jonas Ribeiro conta em O esconderijo das vontades sobre uma cidade, onde moravam muitas vontades: “Os moradores da cidade gostavam de suas profissões, mas sentiam vontade de fazer algo mais. Não havia graça em só fazer o que já sabiam. Eles queriam mais, muito mais. E, todos os dias, o Sol se levantava e animava as vontades a sair de seus esconderijos”. Para que as vontades saíssem dos esconderijos, as pessoas precisavam dar atenção e alimento a elas.
Buscar e fortalecer um propósito significa, inicialmente, olhar para si mesmo e alimentar um pensamento que, pouco a pouco, passa a ser mais do que uma ideia fugaz. Um anseio profundo, um pensamento gerado e moldado, cultivado e protegido, pode um dia ser fertilizado e, quem sabe, então, concretizar-se em ação. Nesse dia a águia ganhará os ares.


Propósito


Sibélia Zanon


O que você quer ser quando crescer? A pergunta inocente, feita às crianças, ganha outros relevos quando nos tornamos adultos. Ao parar um instante e olhar a minha vida, pergunto em silêncio: será que estou fazendo jus àquilo que eu sonhava quando criança? Será que estou sendo fiel ao que pulsa no meu interior? Não importa que não tenhamos nos tornado bailarinas ou astronautas, mas aquela busca pelo bem e pelo extraordinário ainda nos move? Nortear as ações presentes de acordo com um propósito é ouvir a voz que vibra por dentro, deixando que ela fale também do lado de fora. Quando vamos crescer para descobrir o que realmente queremos ser?

“Os dois dias mais importantes da sua vida são o dia em que você nasceu e o dia em que você descobre por que nasceu.”
Mark Twain