domingo, 3 de dezembro de 2017

Advento: preparando o solo para o que há de vir


Daniela Schmitz Wortmeyer

O termo “advento” tem como origem a palavra latina adventus, que significa “chegada, vinda”, do verbo advenīre, “chegar, vir para perto”. Seu sentido se relaciona ao aparecimento ou chegada de algo ou alguém, e também ao que se começa ou institui. É bastante sugestivo que, nas religiões cristãs, o período denominado Advento, que corresponde às quatro semanas que antecedem o Natal, seja o marco do início do ano litúrgico.
O Advento é um tempo de expectativa, em que o turbilhão interno busca se aquietar, preparando-se para o que há de vir. Nas palavras do monge beneditino Anselm Grün, é um exercício de esperança:
“Nesse período, devemos entrar em contato com aquilo que o nosso coração anela. É bem consciente que vivemos o Advento como a fase do esperar. Sem esperança, o ser humano fica enfraquecido. Quem não sabe mais ter esperança não sabe tampouco entender o mistério do tempo, o qual é sempre promessa do eterno.”


Rituais por vezes contribuem para uma atmosfera favorável à interiorização e busca de conexão com o eu mais profundo. Por exemplo, algumas pessoas ainda cultivam a tradição de, nos quatro domingos antes do Natal, realizarem uma leitura ou reflexão especial, como forma de silenciar a mente e abrir espaço para a experiência do sagrado. Há um simbolismo relacionado à chamada coroa ou grinalda de Advento, cujas quatro velas são acesas progressivamente, começando com uma única vela no primeiro domingo, à qual mais uma vai sendo acrescida a cada domingo subsequente, culminando com todas as velas acesas no último dia. Assim como a luz se amplia externamente, os corações das pessoas que participam intimamente do ritual se iluminam e aquecem, em crescente expectativa pela chegada de algo que preencha suas almas.

Preparar-se para vivenciar profundamente o Natal, para além das exterioridades e convenções sociais, pode abrir caminho para uma nova conexão com a existência, para receber forças renovadas provenientes da Fonte da própria Vida. À sua maneira, cada pessoa pode aproveitar esse impulso para cultivar um espaço muito pessoal, sagrado, de interiorização – o qual, como o ventre da terra, abriga e nutre em silêncio as novas sementes que hão de nascer.

foto: Charles Wortmeyer

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Nina e a música do mar em Brasília!



A Nina e o Cabelinho vão para Brasília!!

Vai ter contação de história e autógrafos da ilustradora Tátia Tainá.

Oba!!



quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Abrigo do sonhador

Sibélia Zanon


Mais do que moradia, a palavra casa me lembra as asas de uma ave. Ao mesmo tempo que as asas promovem a liberdade do voo, elas protegem e abrigam os filhotes. A casa abrange uma riqueza de funções, desde as mais concretas, como a proteção de todo tipo de intempérie, até as mais sutis, como o acolhimento da singularidade e profundidade de seus moradores. Para o filósofo Gaston Bachelard “a casa é uma das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem”. Ela protege o sonhador, permitindo que ele se sinta em paz.

“A casa voltava
ao ventre do silêncio e dava vontade de nascer.”
Mia Couto

Antigamente, os sacerdotes ensinavam que uma alma só poderia ouvir a voz do seu espírito na quietude, no silêncio. As casas eram espaços propícios para essa escuta, espaços que nutriam e acalentavam as intuições e inspirações. E elas podiam se transformar ainda em espaços de festa. Entre os povos germanos, comemorava-se, na época do Natal, a festa das doze noites sagradas ou festa da chegada do amor.
“Os seres humanos desse tempo de outrora diziam que no transcorrer das doze noites sagradas desciam ‘fitas do céu’, cada ano de novo, unindo entre si todas as criaturas visíveis bem como as invisíveis…
Essa festividade era celebrada de modo todo especial. Durante todo o seu desenrolar, uma contínua e intensa chama tinha de permanecer acesa diuturnamente na lareira, e diariamente, ao anoitecer, acendia-se uma fogueira ao lado da entrada da casa, que deveria arder até o Sol nascer. Esse fogo tinha um duplo sentido. Primeiramente, deveria iluminar o caminho que conduzia para a casa e, paralelamente, seria o sinal visível do amor e calor que unia os moradores dessa casa; com o mesmo amor também seriam recebidos os hóspedes”, escreve Roselis von Sass, em O Livro do Juízo Final.

Atualmente, cada casa pode ainda manter, mesmo que simbolicamente, uma chama acesa, chama de conexão com as boas inspirações. E, assim, fazer crescer as asas que combinem com a singularidade de seus moradores, propiciando espaço de interiorização e nutrição, provendo-os de força para cada nova jornada.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Lembranças das águas


Nem tudo o que existe a gente vê e nem por isso as coisas deixam de existir!

Era uma vez… Ao escutar a expressão somos levados para um passeio pelas paisagens da memória. Não a memória que habita a mente. Mas uma memória mais profunda, memória gravada na pele, no coração... Era uma vez pode suscitar “ternura saudosa para uns, felicidade melancólica, ou também silenciosos desejos irrealizáveis”, escreve Abdruschin. 
Quais memórias gostaríamos de resgatar para o presente?

No livro Nina e a música do mar – Sereias, a menina pergunta: “Vovó, já experimentei água salgada e já vi um peixe,mas… onde estão as sereias?” O questionamento faz lembrar que, num tempo muito distante, os povos antigos tinham intimidade com a natureza, e as sereias não eram reminiscências de outras eras, mas elemento presente nas relações de gratidão e respeito que um povo construía com as suas águas.
A escritora Roselis von Sass conta em seus livros que as sereias, também chamadas de Ai-aras, Ondinas, Iaras, Mãe d’Água, entre outros nomes nas mais diversas culturas, são conhecidas por suas melodias encantadoras. Muitas vezes, suas músicas são dirigidas aos peixes, como expressão de estímulo e alegria ou ainda como advertência. O encantamento que a água e seus seres causavam nos povos antigos fazia com que fosse celebrada regularmente a festa da água.

“Cada ano celebravam-se várias festas em honra dos entes da natureza. No dia da ‘festa da água’, ofereciam-se presentes às ai-aras. Esses presentes consistiam em um óleo de aroma forte – extraído de madeiras e de flores aromáticas – e em colares de grãos coloridos de sementes.
O óleo espalhado nas águas onde moravam ondinas permanecia flutuando durante algum tempo na superfície. Durante esse tempo, a fragrância penetrava a pesada matéria terrenal, espalhando-se sobre a água onde moravam as ondinas. As ondinas alegravam-se com o perfume, aspirando-o profundamente como uma saudação do reino da terra…”

Os mares, rios e lagos têm música. A música das águas é também a música de seus inúmeros habitantes, visíveis e invisíveis. E se hoje fosse possível resgatar a intimidade com a riqueza da natureza, a gratidão pela abundância das águas e de seus habitantes, será que poderíamos voltar a escutar as diversas músicas das águas?
Era uma vez…