Sibélia Zanon
No grande aquário com vidros arredondados, que ia
quase até o teto do restaurante, não havia peixes extraordinários. Havia apenas
alguns peixes um tanto pequenos para o tamanho do aquário, talvez peixes de 8 a
11 centímetros de comprimento em tons de marrom e alguns daqueles listrados em
amarelo e preto, lembrando o Nemo. Entre os pequenos, nadavam dois peixes pretos,
um pouco mais corpulentos, de uns 18 centímetros.
No fundo do aquário havia pedrinhas pequenas
granuladas, alguns pequenos troncos decorativos e… plantas de plástico. Uma
delas tinha uma haste verde de uns 8 centímetros de altura com flores em tom
pink de uns 4 centímetros de diâmetro.
Enquanto eu devorava minha feijoada, olhei para o
lado. Um dos peixes pequenos tentava, sem sucesso e por consecutivas vezes,
devorar a flor pink de plástico.
Fiquei pensando em tudo o que parece, mas não é, como
aquela comida colorida, que lembrava as cores incríveis dos corais dos mares,
mas não passava de um engodo, uma ilusão. Senti-me solidária e, em parte,
parecida com o peixe.
Quantas vezes não me vi – e ainda me vejo –
consumindo uma porção de coisas ilusórias e de plástico? Desde as comidas bonitas
e cheias de açúcar refinado ou gordura hidrogenada, que a longo prazo matam em
vez de alimentar, até ideias e necessidades fabricadas e – bem recebidas por
uma maioria –, que não combinavam com o que eu queria ser.
Acho que o dono do restaurante quis alegrar os
clientes, colocando o aquário. Mas penso que ele também caiu na armadilha das
ilusões de plástico. Parece alegria, mas não é.
Roselis von Sass
Fios do Destino Determinam a Vida Humana