Sibélia Zanon
Muitas vezes
somos tomados por um perfume que bate na porta de nossos sentidos. Faz um
tempo, quando a primavera se anunciava, eu sentia um perfume ao amanhecer e ao
anoitecer e não sabia de onde vinha. Durante os dias de busca, meu nariz
decidia meus passos. Aquele era um cheiro que sabia contar histórias. Era como
se ele me levasse para passear por uma alameda bonita, como se despertasse o que
existia de bom dentro de mim, fazendo uma conexão com o que existia de bom
fora de mim. E eu queria mais daquilo.
Descobri que o
perfume vinha de uma planta da casa vizinha, e não se tratava de uma planta
especialmente vistosa. Mas... por que precisaria ser vistosa? O seu cheiro
diminuía a questão, nublava os olhos de beleza. Não sei seu nome até hoje,
mas sei que, naqueles dias, a primavera batia na porta da minha casa.
Mas, por que
estou falando da primavera se ela promete chegar só em setembro? Acontece que
a Páscoa se anuncia e, entre ovos e coelhos, pensar na Páscoa despertou
memórias da primavera.
No hemisfério
norte, o início da primavera coincide com a Páscoa. Na língua alemã, a
palavra Páscoa é Ostern, e em inglês é Easter, ambas palavras derivadas do
nome Óstara. E Óstara é conhecida como a deusa da primavera, que uma vez por
ano dá a volta pela Terra, transmitindo sua força para a germinação das
sementes.
Hoje,
dificilmente a Páscoa é associada a essa linda invasão da primavera, como
escreve Roselis von Sass em O Livro do Juízo Final: “Certamente todo ano é celebrada a festa de Óstara, a Páscoa(Osterfest)! A época é a mesma, contudo a vinda da deusa da primavera, através da qual as sementes se tornam férteis, não é mais comemorada...”
No hemisfério
sul não haveria mesmo por que exatamente fazer essa associação entre Páscoa
e primavera, a não ser que repensássemos o calendário.
Sendo o resultado
de costumes e crenças diversas, a comemoração da Páscoa pode trazer
lembranças diferentes a cada um.
Pelos cristãos,
por exemplo, é presente a lembrança da ressurreição de Cristo, que foi
visto pela primeira vez por Maria Madalena, segundo o livro Os Apóstolos de Jesus: “Ela viu nitidamente que esse era o Senhor. Mas também sabia que não era o corpo terreno de Jesus que estivera diante dela, pois somente podia vê-lo com aqueles olhos com os quais percebia as imagens luminosas das alturas.”
Maria Madalena
foi avisada a este respeito:
A seriedade do
acontecimento e de tudo o que envolveu aquele momento vai além das nossas
possibilidades de refletir. Talvez possam reverberar melhor na nossa maneira de
sentir.
Na verdade, vale
dizer que lembranças sobre a beleza da primavera, assim como reflexões sobre
os diversos aspectos que envolveram a missão de Jesus não têm dia marcado no
calendário. A primavera interior de cada um não tem estação certa para
acontecer.